Introdução ao Vertebra
Atualizado: 17 de dez. de 2020
A intenção desse texto é fazer uma pequena apresentação da cultura do movimento para alunos recém chegados ao Vertebra.
O Vertebra inspira sua prática na visão do professor israelense Ido Portal. A ideia de Ido é construir uma prática generalista de movimento que possa beber de diversas fontes disciplinares de movimento sem se prender a nenhum dogma dessas disciplinas. O movimento humano, em todas as suas facetas, se torna o objeto e fim da nossa prática. Explorar a nossa fisicalidade, nossa existência em um corpo, no mundo físico, é o que nos move.
Diferente de um esporte onde, ao final do jogo, é necessário definir um vencedor e um perdedor, trabalhamos com a ideia de jogos infinitos onde, mais importante do que vencer o jogo, é garantir que poderemos seguir jogando. É o que chamamos de jogos infinitos. Sempre que um jogo começa a se tornar muito familiar, mudamos as regras para seguir jogando.
A prática de movimento requer essa curiosidade constante e a adoção do que chamamos de “mentalidade de iniciante” (shoshin na tradição zen-budista). Shoshin é uma postura de esvaziamento e abertura diante do novo. É uma postura que sabe que sempre há algo mais a ser aprendido. É também a compreensão de que a frustração é parte integrante e condição fundamental de todo o processo de aprendizado.
Não existe fórmula mágica. O aprendizado motor é difícil e leva tempo. Dá trabalho. Como qualquer coisa que tenha valor na vida. Por isso somos exigentes. Sempre lembramos nossos alunos de que só há dois pré-requisitos para a prática de movimento. Ter um corpo. E trabalhar duro.
O trabalho é duro, mas o processo é claro e compreensível. Todo trabalho que fazemos leva em consideração que há diferentes corpos, com diferentes históricos e que isso deve ser levado em consideração. Nosso foco didático é muito menos atirar técnicas soltas em cima dos alunos e muito mais tornar claros os princípios que fundamentam as técnicas. Não é à toa o nome “Escola de Movimento”. Nosso objetivo é a educação. E educação vai além da reprodução de habilidades específicas.
Esse ponto nos leva a um valor muito importante para a escola que é o da autonomia. Ao transmitir princípios e não apenas técnicas, buscamos desenvolver nos alunos um senso crítico, uma forma mais ampla de entender movimento que permita aos alunos gerirem sua própria prática de movimento. Não somos o tipo de escola que fala que “o aluno não pode praticar sem um professor”. Pelo contrário. Nossa intenção é oferecer ferramentas que permitam ao aluno fazer perguntas e propor respostas por conta própria. Portanto, com o tempo, a maioria dos nossos alunos começa a desenvolver seus próprios projetos e vai construindo sua própria prática pessoal.
Aqui chegamos a um segundo valor fundamental da escola. O valor da honestidade. Sempre repetimos que o veneno e a cura vêm no mesmo frasco. E o que define é a dose. É assim com movimento. Acreditamos profundamente que o movimento cura. Mas sabemos que ele também pode quebrar. E por isso, sempre incentivamos na escola o cultivo da honestidade. Honestidade consigo mesmo para saber quando se empurrar para trabalhar mais duro e quando se segurar para não fazer demais. Dentro do método há muitas ferramentas para dosar a intensidade do trabalho e os professores estão atentos para guiar os alunos. Mas nenhum olhar externo substitui a capacidade do próprio aluno de saber seu limite.
Com isso esperamos ter deixado um pouco mais claro alguns dos princípios que acreditamos e que praticamos como escola. Ficamos felizes de ter vocês conosco, e esperamos que vocês também se sintam felizes no Vertebra. Até breve!
Equipe Vertebra